Para falar das psicoses deve-se partir do pressuposto de que elas formam um grande grupo, composto pelas estruturas esquizofrênica, paranóica e melancólica. Embora cada uma dessas estruturas tenha a sua especificidade, o que a caracteriza como um grupo é a dificuldade de organização “objetal”, manifesta em graus diferentes. É importante fazer esta diferenciação porque em na sociedade atual ainda há a representação estereotipada do louco, como se todos eles fossem esquizofrênicos. A seguir é importante observar que a loucura existe em diferentes níveis de organização e mais, é possível notar, no cotidiano, pessoas de estruturas não psicóticas cometendo atos insanos.
Estrutura Esquizofrênica
A estrutura psicótica do tipo esquizofrênica corresponde a uma falência da organização narcísica primária nos primeiros instantes da vida, ocorrendo assim uma impossibilidade da criança separa-se da mãe. Nesta estruturação, há uma alienação do conteúdo, mas segundo Dr. Duboir o que a caracteriza essencialmente é a alienação do continente, ou seja, é o funcionamento mental que está alienado. A alienação do conteúdo é muito mais conseqüência da dificuldade de pensar do que origem da problemática.
Em todo ser humano há uma dimensão diferencial, denominada recorte sincrônico, que permite que dentre de varias imagens, permitindo distingui-las de maneira especifica. Na estrutura esquizofrênica, esta dimensão está comprometida. Contudo não é somente a percepção que está prejudicada, o esquizofrênico também possui dificuldade no campo semântico. Por exemplo, ele tem dificuldade de compreender se o exercito está na rua para ma marcha ou para uma guerra...
Relação de Objeto Psicótica Esquizofrênico
Antes de se discorrer sobre as relações objetais da estrutura esquizofrênica é preciso ressaltar que a esquizofrenia tem um componente orgânico, sobre o qual não se pode incidir toda a responsabilidade do desenvolvimento dessa estrutura psíquica, pois as relações que o sujeito estabelece na infância e adolescência são fundamentais para seu desenvolver estrutural. Por estes mesmos motivos, não cabe falar que a mãe fabrica o esquizofrênico, uma vez que há um componente orgânico e ao longo da infância o sujeito estabelece relações com outras pessoas que não a mãe. Cabe ainda ressaltar que a esquizofrenia não é uma doença, mas sim uma síndrome, ela é diferente de paciente para paciente. Dentro da própria esquizofrenia há formas mais organizadas e outras arcaicas, sendo o autismo esquizofrênico a mais arcaica possível.
Como já foi dito, a estrutura esquizofrênica corresponde a uma falência da organização primária narcísica, em outras palavras, ela decorre de uma não ultrapassagem do registro pré-objetal, o sujeito não consegui separar-se simbolicamente da mãe, do que decorre a dificuldade da personalização e ausência de desejos típicos dessa estrutura. O desejo nasce do sujeito, não há como manipulá-lo. Mas o que o esquizofrênico quer é não sentir falta do objeto. Por exemplo, um esquizofrênico poderia dizer: “Manaus é uma cidade perfeita”, de modo que para ele não falta nada. Ou seja, ele não consegue construir objeto que vai ser causa depois do desejo.
No que diz respeito a essa luta que o sujeito trava para se dispersar da busca objetal, pode-se dizer que o delírio paranóide é uma grande evolução, porque significa que ele está tentando é construir o mundo. Antigamente era muito comum encontrar o delírio místico, religioso. Hoje, como a religião está difundida em todo lugar, não há mais porque delirar sobre este tema. Isso mostra que o delírio trata-se de um processo de construção. Nele o sujeito constitui um objeto, mas um objeto não representado, alucinado, construído a partir de um externo, do que ele percebe. Assim, pode-se dizer que esta fase do delírio encontra-se intermediária entre os dois extremos – neurose e autismo, estando um pouco mais próxima da neurose.
Uma mãe super protetora, sempre presente, de maneira a não permitir a criança a alcançar o registro dos desejos, evita a hiância, um conceito Lacaniano, que significa o furo, a falta que fomenta o desejo. Essa mãe sempre presente pode ser vista como perseguição. O que é importante não é a presença, é o jugo presença-ausência, razão pela qual nos faz pensar que é ótimo as mães trabalharem...
Estrutura Paranóica
Dentro das estruturas psicóticas, a estrutura paranóica é a mais avançada, a mais próxima da normalidade, no sentido de que é a mais próxima da realidade. Pode-se dizer que a estrutura melancólica no ponto de vista do ego. O melancólico fora da melancolia vive uma vida normal sendo que o problema desta estrutura é que ela é capaz de regressões muito abaixo da estrutura paranóica. A estrutura paranóica é muito presente em nossa sociedade, o erro é essencialmente paranóico, a forma de aquisição do conhecimento humano é paranóico, podemos dizer que o mundo é um dos paranóicos. Grandes nomes da história foram paranóicos, como Jean Jaques Russeau e Salvador Dali.
Fazendo um paralelo com a estrutura esquizofrênica, podemos dizer que enquanto esta se encontra marcada por fixações pré-genitais, de dominância oral, a estrutura paranóica, por seu turno, corresponde especificamente a uma organização psicótica do ego fixada a uma economia pré-genital com preponderância anal, tocando mais particularmente o 1° substágio anal, que é o da retenção. Esta estrutura é caracterizada clinicamente pela superestimulação de si mesmo e desprezo pelos outros, sendo que o ego é organizado e não alienado, ou seja, é um ego topicamente erigido, capaz de um processo organizado e de um ato refletido. O paranóico tem um ego muito mais desenvolvido que do esquizofrênico. Contudo, para manter este ego funcionando, ele precisa de um objeto submetido a ele. O esquizofrênico tem aquela confusão com o objeto, o paranóico não, ele conseguiu isso, porém o outro será submetido, porque ele só vai garantir a manutenção do ego às expensas do outro.
Nesta estrutura, o ego é aparentemente constituído como existente, mas ele não pode admitir a existência objetal, a não ser quando o objeto lhe permite assumir a onipotência do seu controle sobre ele; essa é a condição essencial para a organização objetal do paranóico. A estrutura paranóica tem necessidade da adesão do objeto ao sistema, não podendo de sentir completo, a não ser desta maneira. Trata-se de fato de uma contrapartida narcisista evidente para o ego particularmente frágil.
Pessoas tidas como inteligentes, pessoas de estrutura paranóica se vêem como perfeitas. Com ótima qualificação profissional, costumam ver o objeto como lixo. O sujeito sente que é o centro do universo, o mundo gira em torno dele. É como se ele fosse o sol e os outros os astros que giram em torno dele. Ele sente-se o agente determinante e criador, de forma que o objeto é o instrumento, que não será jamais separo do seu criador, a não ser para lhe confirmar a impressão da sua onipotência, para lhe confirmar seu valor. Nesta fase do ego o objeto é considerado por si mesma, ele não é jamais senão instrumento. A existência do paranóico está voltada para a construção de um sujeito perfeito. Podemos dizer, por exemplo, que os reis de antigamente, o rei sol, os faraós tinham comportamentos paranóicos ao se sentirem o centro e quererem ser lembrados eternamente, governantes da atualidade também que saem carimbando o nome deles em todo lugar, mesmo em obras públicas...
Estrutura Melancólica
Antes de falarmos de melancolia, cabe uma ressalva, a depressão não é uma doença, mas sim um sintoma extremamente variável, de forma que há formas psicóticas da depressão, que é o caso da melancolia, que é uma psicose. Então, pode-se ter só melancolia, ou aquilo que se chamava de psicose maníaco-depressiva, na qual o sujeito tem a melancolia e tem momentos de mania, de elevação, que é o que se chama hoje de transtorno bipolar. Para Melaine Klein, maníaco-depressivo seria aquele que fracassa no trabalho do luto por haver conseguido na primeira infância estabelecer o vinculo afetivo com suficientes objetos bons internos, o que levaria a segurança interior, daí a sua fragilidade. Assim, ele faz separação, mas ele não construiu um ideal do ego que desse para suportar o impacto de viver essa separação e pode largar o objeto e sair procurando, superar essa perda do objeto. Esse entendimento é importante, pois todo problema da loucura é esse: o ser constitui-se como objeto, separar-se do objeto e suportar esse impacto. Assim, poderíamos sintetizar da seguinte forma: o esquizofrênico não quer nem sonhar em ter uma relação com o objeto, o paranóico quer controle e o drama do melancólico é dependência do objeto...
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