domingo, 10 de abril de 2011

Narcisismo

Em Psicanálise, narcisismo representa um modo particular de relação com a sexualidade. Luciano Elia (1995) define o narcisismo como o processo pelo qual o sujeito assume a imagem do seu corpo próprio como sua, e se identifica com ela (eu sou essa imagem).
O Narcisismo não leva apenas à patologia, ele também é um protetor positivo do psiquismo. Um narcisismo “que promove a constituição de uma imagem de si unificada, perfeita, cumprida e inteira”. (Houser, 2006, pág. 33). Ultrapassa o auto-erotismo para fornecer a integração de uma figura positiva e diferenciada do outro.
Freud distingue dois tipos de narcisismo: narcisismo primário; e narcisismo secundário.
Narcisismo primário                                    
O primeiro modo de satisfação da libido seria o auto-erotismo conceituado como o prazer que o órgão retira de si mesmo; essas pulsões, de forma independente, procuram cada qual por si, sua satisfação no próprio corpo. Nesse período, ainda não existe uma unidade comparável ao eu, nem uma real diferenciação do mundo.
Em seu texto de 1914 sobre o Narcisismo, Freud destaca a posição dos pais na constituição do narcisismo primário dos filhos. Freud fala que o amor dos pais aos filhos é o narcisismo dos pais renascido e transformado em amor objetal. O Narcisismo primário representaria de certa forma, uma espécie de onipotência que se cria no encontro entre o narcisismo nascente do bebê e o narcisismo renascente dos pais.
Narcisismo secundário
No caso do narcisismo secundário há dois momentos: primeiro o investimento nos objetos; e depois esse investimento reforma para o seu (ego). Quando o bebê já é capaz de diferenciar seu próprio corpo do mundo externo, ele identifica suas necessidades e quem ou o que as satisfaz; o sujeito concentra em um objeto suas pulsões sexuais parciais, há um investimento objetal, que em geral se dirige para a mãe e o seio como objeto parcial.
Com o tempo, a criança vai percebendo que ela não é o único desejo da mãe, que ela não é tudo para ela; “sua majestade, o bebê começa a ser destronado. Essa é a ferida infligida no narcisismo primário da criança. A partir daí, o objetivo consistirá em fazer-se amar pelo outro, em agradá-lo para reconquistar o seu amor; mas isso só pode ser feito através da satisfação de certas exigências; a do ideal do seu eu.” (Nazio, 1988, pág. 59)
O ideal de ego
O ego ideal é ao mesmo tempo substituto do narcisismo perdido da infância (onipotência infantil) e o produto da identificação das figuras parentais, assim como seus intermediários sociais.
Freud (1914) diz que o narcisismo do indivíduo surge deslocado em direção a esse ego ideal, que como o ego infantil, se acha possuidor de toda perfeição e valor. O indivíduo não está disposto a renunciar à perfeição narcísica de sua infância. O que o indivíduo projeta diante de si como sendo seu ideal é o substituto do narcisismo perdido da infância na qual ele era seu próprio ideal.
A formação de um ideal aumenta as exigências do ego, constituindo o que Freud chama de o fator mais poderoso a favor do recalque.
O eu (ego) aspira reencontrar a perfeição e o amor narcísico, mas para isso precisa satisfazer as exigências do ideal do eu (ego). A partir daí, só é possível experimentar-se através do outro.
Escolha objetal Narcísica
A escolha objetal narcísica é segundo Freud, amar a si mesmo através de semelhante; e todo amor objetal comporta uma parcela de narcisismo. O eu representa um reflexo do objeto.
O ideal sexual tem uma relação auxiliar com o ideal de ego. Pode ser empregada para satisfação substituta, onde a satisfação narcisista encontra reais entraves. A pessoa amará segundo o tipo narcisista de escolha objetal. (Freud, 1914)
Mas é importante sublinhar que essa imagem amada é sexualmente investida. No homossexualismo é uma imagem que representa o que a mãe deseja e ao amar essa imagem, o homossexualismo como objeto. (Garcia-Roza, 2005)
O narcisismo secundário é o investimento libidinal da imagem do eu, e essa imagem é constituída pelas identificações do eu com as imagens dos objetos.
O Narcisismo e a Teoria do Eu (Ego)

Antes da introdução do conceito de narcisismo em 1914, o eu (ego) era compreendido como massa ideacional consciente cujo principal objetivo é conservar a vida e reunir o conjunto de forças que, no psiquismo, se opõe a sexualidade. O eu(ego) é responsável pelo processo de recalcamento do representante ideativo do impulso sexual, e constitui-se como a sede das pulsões de auto-conservação. Era o pólo defensivo do aparelho psíquico, interessado em conservar a vida. (Elia,1995)
Essa teoria tem uma forte matriz biológica, já que tem como objetivos conservar vivo e conservar viva a espécie. Mas desde os Três Ensaios sobre a Sexualidade, Freud (1905) já havia esclarecido que a pulsão não tem objeto adequado e no inicio da vida predominam pulsões parciais.
Mas antes do conceito de narcisismo, Freud não havia elaborado uma teoria de eu psicanaliticamente consistente e rigorosamente pulsional.
O eu(ego)ate então do ponto de vista teórico poderia ser definido como resumo do esforço de viver, trincheira de um desejo, “o desejo de viver e manter-se vivo, campo natural da vida , conexo, porem oposto ao sexual, este perverso polimorfo, subversivo, voltado para o gozo e o prazer mais do que para a vida”.(Elia,1995,pag117)
Introduzir o narcisismo na teoria das pulsões, acarreta uma nova maneira de conceber o eu (ego) e o dualismo pulsional. Nesta teoria, o eu forma outra dimensão, toma o status de lugar de investimento pulsional.
Funcionamento Narcisista: Características Clínicas
O narcisismo não constitui por si só uma patologia, ele é um integrador e protetor da personalidade e do psiquismo.
Lewknowicz (2005) fala-nos que estamos vivendo em uma cultura com características crescentemente narcisistas; onde há um predomínio do uso da imagem de ação em vez da reflexão para lidar com a ansiedade e um incentivo exagerado ao consumismo e ao culto ao corpo.
Nos pacientes de funcionamento narcisista há uma exagerada preocupação com a aparência; pequenos defeitos físicos são intensamente valorizados. Apresentam uma necessidade exagerada de serem amados e admirados, buscam elogios e se sentem inferiores e infelizes quando criticados ou ignorados.
Têm pouca capacidade para perceber os outros, levando a vida emocional superficial. Há inclusive uma forte dificuldade de formar uma verdadeira relação terapêutica.
Como o Mito do Narciso, o paciente com esse tipo de funcionamento constrói sua sensação de engrandecimento da auto-estima através de uma intensa desvalorização, rejeição e abandono dos objetos. E sobre a base dessa rejeição que o organismo se estrutura. (Lewkowicz, 2005).
Em 1899 Paul Näcke introduziu pela primeira vez o termo “narcisismo” no campo da psiquiatria. Para Närcke seria um estado de amor por si mesmo que constituiria uma nova categoria de perversão.
Freud acreditava que na esquizofrenia a libido afastada do mundo externo é dirigida para o ego e assim dá margem a atitude que pode ser denominada de narcisismo, mas esse seria um narcisismo secundário, superposto a um narcisismo primário. Freud propõe que há uma catexia libidinal original do ego, parte da qual é posteriormente transmitida aos objetos, mas que fundamentalmente persiste e está relacionada com as catexias objetais.
Jung, junto a Eugen Bleuler em Zurique vinha se dedicando às psicoses; e suas pesquisas o levaram a produzir uma teorização enfraquecedora da teoria freudiana da sexualidade. Jung propunha retirar o caráter sexual da libido, que passaria a significar a energia psíquica geral.
Houser (2006) diz que a saga de Narciso (um herói devorado de amor por um objeto que não é outro senão ele próprio) leva a pensar no narcisismo como uma relação imatura, auto-centrada, erotizada, mais que sexualizada, detida em uma contemplação especular do idêntico ao “Si-mesmo” do sujeito. Mais o narcisismo também promove a constituição de uma imagem de si unificada, perfeita, cumprida e inteira, que ultrapassa o auto-erotismo primitivo para favorecer a integração de uma figuração positiva e diferenciada do outro, e, sobretudo, do outro em seu estatuto sexuado.
Luciano Elia (1995) define o narcisismo como o processo pelo qual o sujeito assume a imagem do seu corpo próprio como sua, e se identifica com ela (eu sou essa imagem). Implica o reconhecimento do eu a partir da imagem do corpo próprio investida pelo outro.
O narcisismo em Klein
Para Melanie Klein as relações de objeto existem desde o início da vida, refutando a idéia de narcisismo primário de Freud, pois não considera processos anobjetais. 
Para Klein no vínculo narcisista há uma identificação do ego com o objeto idealizado interno, o que permite dissociar e negar o objeto persecutório externo. A estrutura narcisista é instável, pois é produzida por uma desintegração ou dissociação do ego, e conserva o perigo diante da ameaça persecutória negada (Bleichmar e Bleichmar, 1992).
Na teoria kleiniana o interesse puramente narcisista é uma atitude agressiva em relação ao objeto; existe uma intenção de agredir, por inveja ou por ciúme, que é expressa pelo narcisismo. Quando o sujeito é narcisista em seus interesses, sempre haverá alguém que sofrerá com isso. A resolução do narcisismo é realizada pelo interesse e amor em proteger os objetos externos e internos. 
A renúncia ao desejo narcisista é resultado da posição depressiva, quando se opta por deixar de lado os interesses pessoais narcisistas em favor do parental e por amor aos objetos. 
Narcisismo em Lacan
O narcisismo corresponde ao investimento do eu pela libido que, neste ato constitui-se como libido narcísica. Lacan assinala que este investimento se faz sobre a imago do corpo próprio, no que ele concebeu como estagio do espelho, e que esta imago não pode ser da mesma ordem da imagem dos objetos a serem investidos pela outra libido; para Lacan, na anterioridade lógica do narcisismo não há investimento objetal possível. Não há relação de objeto que não pressuponha o narcisismo (o que se evidencia pela impossibilidade de que haja relação eu-objeto antes da constituição do eu) (Elia, 1992). 
Por volta dos seis meses de idade o bebê reage jubilosamente diante da percepção de sua própria imagem no espelho. Para Lacan o bebê tem uma representação fantasmática do corpo, na qual este aparece fragmentado (a imago do corpo fragmentado continua a se expressar durante a vida adulta nos sonhos, delírios, e processos alucinatórios). A imagem no espelho antecipa para o lactante a coordenação e integridade que não possui naquela etapa da vida (Bleichmar e Bleichmar, 1992).
Na experiência do espelho o sujeito se identifica com algo que não é; ele acredita ser o que o espelho lhe reflete, acaba se identificando com um fantasma, é uma ilusão da qual procurará se aproximar. 
Em Lacan o estágio do espelho não é apenas um momento no desenvolvimento do ser humano; é uma estrutura, um modelo de vínculo que operará durante toda a vida.
O espelho situa a instância do eu, ainda antes de sua determinação social, em uma linha de ficção. O Eu aí constituído é o ego ideal, diferente do ideal de ego. O ego ideal é uma imago antecipatória prévia, o que o sujeito não é, mas deseja ser. É uma imagem mítica, narcisista, incessantemente perseguida pelo homem (Bleichmar e Bleichmar, 1992).
O ideal do ego surge da inclusão do sujeito no registro simbólico.
Na conferência “A agressividade em Psicanálise” Lacan enuncia que a agressividade, como vivência essencialmente subjetiva, surge de encontro entre a identificação narcisista, da qual o indivíduo é portador, e as fraturas, às quais esta imago está submetida (Bleichmar e Bleichmar, 1992).
O estágio do espelho traz a reflexão sobre a intersubjetividade humana. O olhar do outro produz no sujeito sua identidade, por reflexo. Através do olhar do outro, o sujeito sabe quem ele é, e nesse jogo narcisista, se constitui a partir de fora.
Lacan retoma a reflexão hegeliana da Fenomenologia do Espírito, especifica a Dialética do Senhor e do Escravo.“Nada irrita mais do que a intenção do outro de sair do jogo, pois tropeça no que sou”. Lacan considera a pulsão de morte como expressão do narcisismo.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Médico baleado na cabeça, em Manaus, recebe alta e já está em casa

Professor da Ufam, Manoel Galvão, de 64 anos, foi encontrado em seu próprio carro, na Rua Vicente Torres Reis, no bairro São Jorge (zona oeste de Manaus), no dia 11 de dezembro.
[ i ] Manoel Dias Galvão é um dos pioneiros da psicanálise no Amazonas. Foto: Chico Batata/ Acervo-DA Manoel Dias Galvão é um dos pioneiros da psicanálise no Amazonas.
Manaus - O médico psiquiatra Manoel Dias Galvão, de 64 anos, baleado na cabeça no dia 11 de dezembro de 2010 em uma suposta tentativa de assalto em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas pela polícia, recebeu alta do Hospital da Unimed, no bairro da Cachoeirinha (zona centro-sul de Manaus), há poucos dias. A informação é de uma enfermeira que pediu para não identificada.
O dia exato da alta médica não foi divulgado pelo hospital, assim como o dia da transferência entre a unidade particular e o Hospital Pronto-Socorro João Lúcio (zona Leste), onde Manoel Galvão permaneceu internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) logo após a ocorrência. A família não autorizou dar esta informação, segundo o hospital.
Professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Manoel Galvão, de 64 anos, foi encontrado em seu próprio carro, na Rua Vicente Torres Reis, no bairro São Jorge (zona oeste de Manaus). Pouco depois, o médico foi submetido a uma cirurgia de retirada do projétil que estava alojado no crânio. Dias depois da internação, enquanto ainda estava na UTI do Hospital João Lúcio, o quadro clínico de Galvão apresentou breve melhora. Ele ficou em coma induzido, respirando através de aparelho de ventilação mecânica.
A reportagem do Portal D24am tentou entrar em contato nesta quinta-feira (6) com a família do médico, que não quis dar informações sobre o atual estado de saúde do professor da Ufam. De acordo com amigos, Galvão está bem e em fase de recuperação.
Médico implantou a psicanálise no Amazonas
Manoel Dias Galvão foi um dos introdutores da psicanálise no Amazonas, entre o fim dos anos 80 e início dos anos 90. Quem afirma é o também médico psiquiatra Rogélio Casado, ex-aluno e amigo de Galvão. Em entrevista ao Portal D24am, Casado contou um pouco da história profissional e acadêmica do ex-professor.
De acordo com Casado, Manoel Galvão trouxe a psicanálise ao Amazonas a partir de um desencantamento que teve com a psiquiatria no Estado. “Entre 1978 e 1979, ele ficou tão desencantado com a psiquiatria no Amazonas, que ele saiu do hospital psiquiátrico (Eduardo Ribeiro) e foi trabalhar em um ambulatório, onde ficou até os dias atuais”, conta Casado. O segmento trazido por Galvão, conforme conta Casado, foi a “psicanálise lacaniana”, do psicanalista francês Jacques-Marie Émile Lacan.
Antes do momento em que se afastou definitivamente da psiquiatria, Manoel Galvão atuou, junto com Rogélio Casado e outros nomes, a exemplo de Silvério Tundes, no combate à “ideologia manicomial”. “A lógica dos manicômios sempre foi a exclusão social. O nossa proposta é um trabalho de caráter substitutivo. Pãe fora os manicômios e se coloca uma rede de atendimento psicossocial. Manoel Galvão é patrono desse movimento”, lembra.
‘Soltem os loucos’
Rogélio Casado conta que conheceu o professor Manoel Galvão em 1974, na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), já com Galvão na figura de professor, em uma clínica que existia em frente ao Campus da Universidade. E foi entre 78 e 79, tal como conta Casado, que Manoel Galvão tomou uma atitude considerada polêmica dentro do próprio segmento da psiquiatria. “Foi nesse período que ele começa a abrir os portões das enfermarias para permitir que os pacientes psiquiátricos pudessem circular”, conta.
O médico, amigo de Galvão, lembra que a medida gerou um problema com os outros médicos. “Os outros médicos eram contrários a isso, mas eles tinham uma formação precária, que reproduz a ideologia manicomial. Galvão começa desmontar essa lógica. Ele não queria ser carcereiro, ele queria que as pessoas circulassem”, explica Casado, dizendo que tomou atitude similar em meados dos anos 80. O médico, que já foi coordenador de saúde mental da Secretaria de Estado da Saúde (Susam), diz que a ideologia de exclusão é similar à eugenia, proposta pelo regime nazista.
“Isso tinha relação com a ideologia nazista, muito próximo da eugenia, que era a ideia de branqueamento da raça. Um professor do Manoel Galvão chegou a escrever um livro sobre isso, e Manoel rompeu com ele. Aqui no Amazonas nos derrotamos esse pensamento, quando ele conseguiu fechar essa clínica”, diz.
Preocupação com a formação profissional
Manoel Galvão sempre se preocupou com a formação dos médicos psiquiatras, de acordo com Rogélio Casado. “Manoel sempre criticou a formação péssima dos profissionais e não à toa. A psiquiatria no Amazonas não tem avançado. Pessoas como Manoel Galvão e Silvério Tundes tinham um discurso muito potente, capaz de problematizar a realidade. Como professor, sempre estimulou seus alunos. Apesar disso, ele se desencantou com a área. Um homem como ele, com inquietação intelectual, é um parceiro de primeira hora, mas eu entendo a insatisfação dele com o setor”, conta Casado.
“Apesar de toda a luta, a reforma da psiquiatria, com a eliminação dos manicômios e sua substituição por redes de atendimento psicossocial, nunca sai do papel. Falta vontade de política”, reclama Rogélio Casado, dando pistas sobre o desencanto do médico Manoel Galvão com o segmento.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Adolescência

            Transformações que passam no adolescente e no jovem. É, também, um sintoma. E um tipo de teste, que pode enlouquecer o adolescente ou o transformá-lo num delinqüente.
            Para a psicanálise a adolescência não é uma passagem de tempo, e sim um momento chave. O problema da adolescência é da nossa civilização, e também da Medicina.
            Numa tribo, por exemplo, não há adolescência. E sim o rito de passagem. A sociedade perdeu esse rito de passagem, mas os Judeus ainda o mantém. Assim, o adolescente é tratado como uma criança-adulta. Além dos pais não saberem lidar com o adolescente.
            Na Idade Média não havia a adolescência. Pois o ensino era absolutamente profissionalizante, geralmente o indivíduo seguia a profissão do pai. E desde cedo era inserido no mercado de trabalho. Adolescente não é problemático, isso é um chavão. E um estereótipo idiota. A idade na psicanálise não serve para nada.
            Os impactos da civilização sobre o corpo levam as meninas a cada vez mais menstruarem mais cedo. São estimuladas pela compulsão do desejo e desenvolvem rapidamente suas características sexuais, no intuito de se exibir.
            Há fundamentalmente mudanças subjetivas graças ao exercício genital. Acaba a adolescência quando o indivíduo começa a transar. Pois a criança não tem relações sexuais. O estupro compromete a infância. Acaba com ela.
            Interessante notar que as crianças brincam e o brincar é extremamente saudável. Pois ela cria um mundo para si, ao contrário do adolescente que seu principal problema é o real do sexo. Construir sua identidade sexual e lidar com o outro.
            O adolescente vê a mãe como uma mulher, e por isso nega-lhe o afago. Já a criança vê a mãe diferente. Os pais têm problema em aceitar essa atitude, acham logo que é rebeldia. Pois o adolescente foge do desejo incestuoso através do fascínio pela rua.
            A criança vive em torno da família. O adolescente é um viajante. E esse termo foi criado no século XIX, porém tanto a adolescência como a infância vão se acabar. Pois antigamente a sexualidade era entravada. Hoje bem cedo são iniciados, desde casa aprendem a ordem do gozo a qualquer custo. As mães hoje em dia já colocam anticoncepcionais na bolsa da filha.
            O adolescente de hoje é reacionário, conservador e acomodado. A adolescência tem várias definições: momento chave para o futuro profissional. E muitos não querem enfrentar o real, não querem sair da faculdade e ir lá fora buscar uma vaga no mercado de trabalho.
            Pode ser definido também como um momento privilegiado no qual há o encontro da sexualidade. Pois há mudança de estatura, pois não é mais um corpo infantil. É um corpo que seduz com o olhar. E a genitalidade ocupa uma posição de dominação. Afinal, o sujeito tem uma identidade sendo homem, ou mulher. O ter, ou não ter divide o homem da mulher. O homem tem o falo, a mulher não.
            É preciso que o jovem ache esse corpo desejado. Adolescente geralmente se relaciona com indivíduos adultos. O problema essencial da adolescência é o afastamento dos pais. Procurando o outro e um ídolo.
            O corpo do adolescente foi criado na relação com a mãe e com o pai. Então, ele procura uma identificação nos ídolos. Que muitas vezes são bissexuais, drogados são uns verdadeiros perdidos. O pai esclarecido deve oferecer oportunidades para o conhecimento de bons ídolos.
            O adolescente usa piercing, ou qualquer outra coisa para prender o olhar do outro. Eis um grande problema: o lidar com esse olhar do outro, daí surge à anorexia, bulimia e o dismorfismo fóbico.
            Todo cirurgião plástico sabe que é arriscado fazer uma cirurgia num adolescente. Pois ele pode ver o corpo dele igual ao dos pais. E fazer cirurgias desnecessárias.
            O que é preciso entender é que não se pode definir a adolescência, velhice ou infância pela idade. Pois na Adolescência a diferença dos sexos é mais forte que a diferença das idades...
           

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Familiares de professor da Ufam aguardam novo boletim médico

De acordo com amigos da vítima, o professor se encontra sedado e se recuperando do procedimento cirúrgico para esvaziar um edema formado na cabeça, após o tiro.
Manaus - Familiares e amigos do médico psiquiatra e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Manoel Dias Galvão, de 64 anos, aguardam pelo novo boletim médico do Pronto-Socorro Dr. João Lúcio, local onde Galvão foi submetido, na noite de sábado (11), a uma cirurgia de retirada do projétil que estava alojado em seu crânio.
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Susam), o boletim, que trará as informações mais recentes sobre o estado de saúde do professor, após a intervenção cirúrgica pela qual passou, deve ser divulgado para a família até o fim da manhã desta segunda-feira (13).
De acordo com amigos da vítima, o professor se encontra sedado e se recuperando do procedimento cirúrgico para esvaziar um edema formado na cabeça, após o tiro. Não há, até o momento, ainda de acordo com amigos do médico, nenhum indicativo para evolução não satisfatório do quadro clínico do professor da Ufam.
Manoel Dias Galvão foi encontrado ferido dentro de seu carro por moradores do bairro do São Jorge com as mãos e a cabeça para fora do veículo. Ele foi baleado com um tiro na cabeça dentro do carro dele, na Rua Vicente Torres Reis, no bairro São Jorge, zona oeste de Manaus. De acordo com a polícia, testemunhas viram três adolescentes saírem do carro de Galvão, um Kia Cerato, placa NOY-8508. Um deles estava baleado no braço.

by: http://www.d24am.com/noticias/amazonas/familiares-de-professor-da-ufam-aguardam-novo-boletim-medico/12696

sábado, 11 de dezembro de 2010

A Temática do Bouquet




Dialetiza o estádio do espelho, no qual o sujeito adquire a idéia da totalidade do corpo, antecipando, pela via do olhar que vem do outro, o que ainda não se encontra formado. No esquema, ao invés de um visão fragmentada do vaso e do buquê de flores, tem-se então a imagem de um vaso com flores. Portanto, está justamente no que este olho olha a imagem de onde o sujeito apreenderá sua própria imagem.Assim, este olho que olha situa o sujeito no lugar do simbólico que, pela evocação do nome, possibilita ao infans surgir como eu.



Introduzindo novos elementos, Lacan utiliza um segundo esquema, apontando para o lugar do Outro. Insere, com o espelho plano, a via pela qual o sujeito pode realizar a ilusão de ver o que está posto no espelho. A imagem virtual se configura agora a partir da imagem real. O corpo real, que se faz refletir no espaço virtual, põe em cena o ideal que o sujeito irá perseguir em busca do reconhecimento. O vaso agora encontra-se dentro da caixa e em sua imagem totalizante; no espelho plano, as flores que bordejam a boca do vaso indicam os possíveis objetos pulsionais, objetos a.



Por fim, num terceiro esquema, Lacan demonstra a dimensão de engodo que a imagem encerra e põe em evidência a função estruturante da falta. Na boca do vaso já não se encontram mais as flores, mas sim o –φ, a falta, o que dialetiza o desejo.


Gostaria de concluir com um recorte de um poema do inglês John Milton, do “Paraíso Perdido, Livro IV”.
 
“... Ao debruçar-me sobre o lago, um vulto
Bem em frente a mim apareceu
Curvado para olhar-me. Recuei
E a imagem recuou, por sua vez.
Deleitada, porém, com o que avistara,
Novamente eu olhei. Também a imagem
Dentro das águas para mim olhou
Tão deleitada quanto eu, ao ver-me.
Fascinada, prendi na imagem os olhos
E, dominada por um vão desejo
Mais tempo ficaria, se uma voz
Não se fizesse ouvir, advertindo-me:
“És tu mesma que vês, linda criatura”.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O Vazio Iluminado por Dinara Machado Guimarães



"Este olhar que Dinara Machado lança ao cinema, via Lacan, é uma aventura dos limites: percorre a fronteira entre o que (não) pode ser dito e o que (não) pode ser mostrado, entre ofuscamento e silêncio, discurso e iluminação."
Rogério Luz – Artista plástico, professor da Escola de Comunicação da UFRJ.

"Um livro como este só pode ser bem-vindo. Dinara Machado soube ser original e ousada sem no entanto abandonar o rigor teórico, sempre indispensável, principalmente quando se trata de psicanálise."
Maria Anita C. R. Lima Silva – Psicanalista, Doutora Professora da PUC/RJ.

"Dinara Machado cria um caminho para a leitura do cinema através da psicanálise invertendo a atitude habitual de "psicanalisar" os temas da obra cinematográfica. Propõe, ao contrário, reconstruir o olhar criador, que se instaura como busca em abismo. Pela psicanálise lacaniana, percorre, no sobre-olhar proposto, a tra ma do olho-cinemática, Trata o cinema como significante único, irredutível, ato-significante.
Instância do fazer poético, o cinema é marcado como "vazio iluminado". Habita, no limite, o campo do indizível, para-além do não-dito.
Instalando-se no ponto de construção do olhar, Dinara descobre "outro olhar" que faz o cínema. Por esse raciocínio reelabora as tramas entre "sujeito" e linguagem-"objeto", sem o costumeiro reducionismo da obra à biografia do autor. Consegue cercar seu "objeto", o "vazio iluminado", tecendo as bordas do vazio que consiste na vertigem da aposta pessoal do cineasta. Aposta radical como anteparo do grande oco, da "clareira", nó da arte, ou a própria morte. (...)
O livro abre muitas possibilidades prospectivas, como a de configuração imaginá ria do olhar internalizada nos itinerários técnicos do cinema. Por isso é uma obra "seminal", semeia e aduba também para outras colheitas. Umbral de olhares e pensamentos.
Carlos E. Uchôa Fagundes Jr. – Artista plástico, Doutor em História da Arte pela USP.

"Este livro, agora em segunda edição, é obra que mescla o vigor da criatividade com o rigor da teoria. Obra pioneira – primeira a sair no Brasil propondo uma leitura psicanalítica do fenômeno cinematográfico –, Vazio iluminado é referência obrigatória para uma reflexão sobre esses campos."
Ari Roitman – Psicanalista e editor.

Dinara Gouveia Machado Guimarãe é psicanalista, Mestre e Doutora pela Escola de Comunicação da UFRJ.

Voz Na Luz por Dinara Machado Guimarães



Voz fora do corpo no cinema
Romildo do Rego Barros
“Depois de publicar há alguns anos O vazio iluminado, cujo tema era o olhar no cinema, Dinara Guimarães nos dá agora a conhecer Voz na luz, prosseguindo assim a sua pesquisa, situada por ela própria na interface cinema-psicanálise.
(...)
A interface, espaço escolhido pela autora para situar o livro e o seu próprio percurso de pesquisadora – sintetizado na fórmula “não escrever sobre cinema; à luz do cinema, sim” –, é uma montagem que visa a captar de alguma forma os restos e fragmentos de campos diferentes. Ou seja, é o lugar que um autor inventa ao se situar criativamente entre dois campos, juntando-os algumas vezes, separando-os outras. É o esforço de abrir uma passagem que não havia antes, de explorar uma outra já existente, ou de fechar uma terceira que se revela falsa, de tal maneira que outros possam percorrer o mesmo caminho, necessariamente reinventando-o.
(...)
Instalar-se por um tempo na interface cinema-psicanálise, como faz mais uma vez Dinara Guimarães neste livro, implica discutir, como psicanalista, com dezenas de artistas, teóricos e críticos de cinema, nomeados na bibliografia deste livro. Cada um deles trata à sua maneira da voz, e para isso é preciso que, ainda que não intencionalmente, tenham separado esse objeto do conjunto das funções e elementos que estão presentes em um filme.
(...)
Assim como se separa do corpo, a voz pode igualmente se isolar da fala e do sentido. No cinema, o exemplo talvez mais marcante é a passagem do cinema mudo – termo que, aliás, Dinara Guimarães recusa, preferindo-lhe “silencioso” – para o cinema falado, “o grande culpado da transformação”, como cantava Noel Rosa.
(...)
Separando-se do corpo que a recobria e a unia à fala, a voz pode retornar para o sujeito como acusação, perseguição ou imperativo superegóico, isto é, como uma injunção que não é sequer um enigma a ser interpretado, mas pode também se constituir como causa do desejo.
Este é sem dúvida um ponto em comum entre o cinema e a clínica psicanalítica: fazer com que a irrupção da voz para fora do sentido possa ser usada para mobilizar o desejo e não para esmagá-lo.”
Romildo do Rego Barros
 
DINARA GOUVEIA MACHADO GUIMARÃES é psicanalista, Mestre e Doutora pela Escola de Comunicação da UFRJ.