sábado, 11 de dezembro de 2010

A Temática do Bouquet




Dialetiza o estádio do espelho, no qual o sujeito adquire a idéia da totalidade do corpo, antecipando, pela via do olhar que vem do outro, o que ainda não se encontra formado. No esquema, ao invés de um visão fragmentada do vaso e do buquê de flores, tem-se então a imagem de um vaso com flores. Portanto, está justamente no que este olho olha a imagem de onde o sujeito apreenderá sua própria imagem.Assim, este olho que olha situa o sujeito no lugar do simbólico que, pela evocação do nome, possibilita ao infans surgir como eu.



Introduzindo novos elementos, Lacan utiliza um segundo esquema, apontando para o lugar do Outro. Insere, com o espelho plano, a via pela qual o sujeito pode realizar a ilusão de ver o que está posto no espelho. A imagem virtual se configura agora a partir da imagem real. O corpo real, que se faz refletir no espaço virtual, põe em cena o ideal que o sujeito irá perseguir em busca do reconhecimento. O vaso agora encontra-se dentro da caixa e em sua imagem totalizante; no espelho plano, as flores que bordejam a boca do vaso indicam os possíveis objetos pulsionais, objetos a.



Por fim, num terceiro esquema, Lacan demonstra a dimensão de engodo que a imagem encerra e põe em evidência a função estruturante da falta. Na boca do vaso já não se encontram mais as flores, mas sim o –φ, a falta, o que dialetiza o desejo.


Gostaria de concluir com um recorte de um poema do inglês John Milton, do “Paraíso Perdido, Livro IV”.
 
“... Ao debruçar-me sobre o lago, um vulto
Bem em frente a mim apareceu
Curvado para olhar-me. Recuei
E a imagem recuou, por sua vez.
Deleitada, porém, com o que avistara,
Novamente eu olhei. Também a imagem
Dentro das águas para mim olhou
Tão deleitada quanto eu, ao ver-me.
Fascinada, prendi na imagem os olhos
E, dominada por um vão desejo
Mais tempo ficaria, se uma voz
Não se fizesse ouvir, advertindo-me:
“És tu mesma que vês, linda criatura”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário