quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O Sintoma

"E os que dançavam foram considerados loucos por aqueles que não ouviam a música". Nietzsche


              
Uma das maiores limitações da Medicina é querer eliminar o sintoma a todo custo, pois essa se apóia basicamente na tecnologia, no diagnóstico de imagem que é um sistema lucrativo para terceiros e, cada vez mais, há um profundo esquecimento da técnica semiológica. Uma vez que a sua origem foi calcada na clínica e hoje isso caiu por terra. E, muitas das vezes, estimulada pelo próprio paciente. Eis a principal crítica da psicanálise, a temática do sintoma. Nem sempre um sintoma está relacionado a uma alteração anatomo-patológica, mas sim a uma informação do inconsciente. Por exemplo, a anorexia nervosa e bulimia a princípio não têm alterações orgânicas, só a posteriori quando a alimentação é intensamente prejudicada observa-se amenorréia nas mulheres.  E para que esse sintoma possa ir a análise é preciso que haja uma queixa. Exemplo: obsessão. Não há compulsão sem obsessão. Não há obsessão sem angústia. O obsessivo é um sujeito que tem diversas dificuldades, principalmente com o desejo. Nenhum deles se atreve com mulheres que são muito desejadas. Eles não conseguem suportar essa questão do desejo da mulher por muito tempo. Pois é complicado tanto para o homem quanto para mulher sustentar o desejo; todo neurótico tem dificuldade nisso. Não existe a análise para se autoconhecer. É preciso ter sofrimento (um sintoma). Que vai existir antes, durante e depois da análise sempre! Pois, é impossível tentar eliminar a raiz do sintoma, o real.
Não há autoconhecimento, nem auto-análise devido o eu (que é um sintoma). Assim, a análise através do autoconhecimento é fruto da ignorância e do charlatanismo e nem existe análise sem sintoma: eis a base do método psicanalítico. Então, a análise só é possível a partir de um sintoma; que o ser humano o produz independente de ter uma doença, ou não. Em qualquer doença orgânica nunca se encontrarão os mesmos sintomas no paciente e esses não são de natureza objetiva. Embora, os sonhos e atos falhos sejam analisáveis. Por isso é difícil tratar a esquizofrenia, pois o doente não se incomoda com a sua loucura, sente-se até bem. Chegando a achar que é o dono do mundo, caracterizando a megalomania.
O eu é uma relação especular constituída pelo próximo através do narcisismo feito para não ter conhecimento de si. Os melancólicos são os que mais chegam perto do autoconhecimento, pois é preciso sofrimento para se ter noção do quão falho se é. Para construir um saber é preciso o sofrimento, não existe conhecimento sem sofrimento. Exemplo maior disso é o saber proveniente da vivência, por mais que haja conselhos ou avisos; a vida é realmente quem ensina. Todo sintoma mesmo sendo orgânico se produz um gozo. Exemplo maior disso são os indivíduos que comem até dilatar o estômago e doer, ultrapassando o limite do prazer e indo até o sofrimento. Só existe sintoma porque há gozo. Todo ser humano é masoquista, só sente prazer quando goza e sofre. Pois o homem não é apenas racional, ou irracional. Ele junta as duas coisas (se for verdade a evolução o homem rompeu com a animalidade).
E muitas pessoas recorrem às drogas para não saber nada de si, para tentar fugir da realidade. E para ter alienação. Quem se droga faz papel de idiota. Mas a droga é um remédio, assim como todo remédio é uma droga. Os toxicômanos usam da automedicação para obter satisfação e depois começam a tomar cada vez mais até culminar numa overdose, geralmente fatal. A mania é o contrário da melancolia.
Para haver análise é necessário ter a demanda na forma de um sintoma, o que leva o sujeito fazer a demanda é o sofrimento causado pelo sintoma. Pode existir sintoma sem doença e doença sem sintoma. Exemplo, agorafobia: medo de espaços abertos no qual não existe uma alteração orgânica. A própria superstição é um sintoma do transtorno obsessivo.
Tem um lado superficial do sintoma que é apenas, uma ponta do iceberg. Ex: lavar a mãos mil vezes é um sintoma superficial. Na verdade, esse indivíduo tem problema com mulheres. Ou melhor, um impasse com o superego.
Um cantor famoso - a esposa morreu e ele usa roupa branca para encontrar a sua esposa. Ou seja, tem o superficial (roupa branca) e o verdadeiro (vontade de transar com a esposa que já morreu). Outro exemplo são os indivíduos que só andam de um lado da rua, porque se forem pelo outro lado algo de ruim vai acontecer. Isso não é superstição, trata-se de uma obsessão. Muitos neuróticos obsessivos levam anos para procurar um tratamento. E só procuram quando esses sintomas estão insuportáveis.
A figura materna a princípio significa Deus. Quando a parceira é boa de cama torna-se difícil a separação. Todo homem irá deparar-se com uma mulher no qual um dia irá ser impotente sexualmente. O funcionamento da sexualidade depende muito do outro, o mal da maioria das pessoas é pensar que as coisas funcionam mecanicamente. Pois ter desejo por qualquer mulher não é uma característica humana; pois todos sofrem uma castração simbólica determinando uma via de prazer a determinadas pessoas. O sintoma também está ligado de certa forma ao gozo. Quando o indivíduo usa drogas no início ele se sente bem, num verdadeiro gozo. Depois se apaixona, pela droga, e não quer saber mais de nada. Não liga mais pra nada.
Existem dois corpos: um biológico e outro erógeno, montado pela relação com os pais. Quando o indivíduo nasce possuí um corpo anatômico, mas não vive dele. Vive com o corpo montando; construída na relação materna onde a mãe amamenta a criança e a toca em certos lugares e quando esse indivíduo cresce, ele sente prazer em determinados lugares no ato sexual. E é preciso o sujeito ter uma determinada experiência para ver que o outro precisa de um prazer, de uma satisfação.
O paciente tem prazer com o próprio sintoma. Ele tem certo ar de satisfação. Pois o homem como espécie do ponto de vista estrutural é um animal perverso, pois goza com o sofrimento. No caso o sadismo – usa de força para fazer com que o outro sinta prazer, força essa desnecessária. As anoréxicas gozam não se alimentando, configurando a idéia de que cada um goza à sua maneira.
Então, por que o homem produz sintoma? Porque parte do gozo sexual vai para o sintoma. Até no sintoma orgânico há gozo. O que destrói a teoria do bom selvagem de Rousseau. O homem nasce um parasita, horrível, morde o seio da mãe durante a amamentação. Por pior que seja a sociedade, só estamos aqui devido à sociedade. O ser humano precisa do outro. Um pai e uma mãe, por pior que sejam, são necessários à criação de um sujeito.
O homem não gosta do sofrimento, nem o busca. O que ocorre é que na busca por prazer confronta-se com caminhos que levam ao sofrimento.
Só o sintoma não é suficiente para que o indivíduo procure ajuda. É necessário que o mesmo perceba o quanto está sendo idiota, ou que aquele sintoma o incomode muito. E é visto de cara como algo que o outro deve curar. Isso também é importante, pois deve ser visto como uma criação do sujeito, que produz o sintoma inconscientemente.
É necessário o sujeito achar que o analista vai curá-lo, caso ele não pense assim não tem análise. Embora, isso não seja verdadeiro, quer dizer, o analista precisa fazer o indivíduo falar muito para encontrar de onde vem a produção desse sintoma, ver a sua origem...
 

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